Os cem erros gramaticais mais comuns na Língua Portuguesa (parte I)
Mexendo nos arquivos da agência, ocasionalmente localizamos uma cópia de matéria de ‘O Estado de São Paulo’, datada de 1997 e entitulada “Os cem erros mais comuns”. Esta lista foi muito útil muitas vezes para nossa equipe, e por isso resolvemos torna-la disponível para consulta online aqui no Blog da Projetual, dividindo-a em dois textos de 50 tópicos cada.
1. “Mal cheiro”, “Mau-Humorado” – Mal opõe-se a bem e mau, a bom. Assim: mau cheiro (bom cheiro), mal-humorado (bem-humorado).
2. “Fazem” cinco anos – Fazer, quando exprime tempo, é impessoal. Faz cinco anos / fazia dois séculos / fez 15 dias.
3. “Houveram” muitos acidentes – Haver, como existir, também é invariável. Houve muitos acidentes / havia muitas pessoas / deve haver muitos casos iguais.
4. “Existe” muitas esperanças – Existir, bastar, faltar, restar e sobrar admitem normalmente o plural. Existem muitas esperanças / bastariam dois dias / faltavam poucas peças / restaram alguns objetos / sobravam ideias.
5. Para “mim” fazer – Mim não faz, porque não pode ser sujeito. Assim: para eu fazer / para eu dizer / para eu trazer.
6. Entre “eu” e você – Depois de preposição, usa-se mim ou ti: entre mim e você / entre eles e ti.
7. “Há” dez anos “atrás” – Há e atrás indicam passado. Use apenas há dez anos ou dez anos atrás.
8. “Entrar dentro” – O certo: entrar em. Outras redundâncias: sair fora ou para fora, elo de ligação, monopólio exclusivo, já não há mais, ganhar grátis, viúva do falecido.
9. “Venda à prazo” – Não existe crase antes de palavra masculina, a menos que esteja subentendida a palavra ‘moda’: salto à (moda de) Luís XV. Nos demais casos: a bordo, a pé, a esmo, a cavalo, a caráter.
10. “Porque” você foi? – Sempre que estiver clara ou implícita a palavra razão, use por que separado. Por que (razão) você foi? / Não sei por que (razão) você foi. Porque é usado nas respostas: ele se atrasou porque o trânsito estava congestionado.
11. Vai assistir “o” jogo hoje – Assistir como presenciar exige “a”: vai assistir ao jogo, à missa, à sessão. Outros verbos com “a”: eles obedeceram aos avisos / a medida não agradou à população / aspirava ao cargo de diretor / pagou ao amigo / respondeu à carta / sucedeu ao pai / visava aos estudantes.
12. “Preferia ir “do que” ficar – Prefere-se sempre uma coisa a outra. Preferia ir a ficar. É preferível segue a mesma norma: é preferível lutar a morrer sem glória.
13. O resultado do jogo, não o abateu – Não se separa com vírgula o sujeito do predicado. O resultado do jogo não o abateu. Outro erro: o prefeito prometeu, novas denúncias. Não existe o sinal entre o predicado e o complemento: o prefeito prometeu novas denúncias.
14. Não há regra sem “excessão” – O correto é exceção. Veja outras grafias erradas e, entre parênteses, a forma correta: “paralizar” (paralisar), “beneficiente” (beneficente), “xuxu” (chuchu), “previlégio” (privilégio), “vultuoso” (vultoso), “cincoenta” (cinquenta), “zuar” (zoar), “frustado” (frustrado), “calcáreo” (calcário), “advinhar” (adivinhar), “benvindo” (bem-vindo), “ascenção” (ascensão), “pixar” (pichar), “impecilho” (empecilho), “envólucro” (invólucro).
15. Quebrou “o” óculos – Concordância no plural: os óculos, meus óculos. Da mesma forma: meus parabéns, meus pêsames, seus ciúmes, nossas férias, felizes núpcias.
16. Comprei “ele” para você – Eu, tu, ele, nós, vós e eles não podem ser objeto direto. Assim: comprei-o para você. Também: deixe-os sair, mandou-os entrar, viu-a, mandou-me.
17. Nunca “lhe” vi – Lhe substitui a ele, a eles, a você e a vocês e por isso não pode ser usado como objeto direto. Nunca o vi / não o convidei / a mulher o deixou / ela o ama.
18. “Aluga-se” casas – O verbo concorda com o sujeito. Alugam-se casas / fazem-se consertos / é assim que se evitam acidentes / compram-se terrenos / procuram-se empregados.
19. “Tratam-se” de – O verbo seguido de preposição não varia nesses casos: trata-se dos melhores profissionais / precisa-se de empregados / apela-se para todos / conta-se com os amigos.
20. Chegou “em” São Paulo – Verbos de movimento exigem a, e não em: chegou a São Paulo / vai amanhã ao cinema / levou os filhos ao circo.
21. Atraso implicará “em” punição – Implicar é direto no sentido de acarretar, pressupor: atraso implica punição, promoção implica responsabilidade.
22. Vive “às” custas do pai – O certo: vive à custa do pai. Use também em via de, e não “em vias de“: espécie em via de extinção / trabalho em via de conclusão.
23. Todos somos “cidadões” – O plural de cidadão é cidadãos. Veja outros: caracteres (de caráter), juniores, seniores, escrivães, tabeliães, gângsteres.
24. O ingresso é “gratuíto” – A pronúncia correta é gratúito, assim como circúito, intúito e fortúito (o acento não existe, só indica a letra tônica). Da mesma forma: flúido, condôr, recórde, aváro, ibéro, pólipo.
25. A última “seção” de cinema – Seção significa divisão, repartição; e sessão equivale a tempo de uma reunião, função: seção eleitoral, seção de esportes, seção de brinquedos; sessão de cinema, sessão de pancadas, sessão do Congresso.
26. Vendeu “uma” grama de ouro – Grama, peso, é palavra masculina: um grama de ouro / vitamina C de dois gramas. Femininas, por exemplo, são a agravante, a atenuante, a alface, a cal, etc.
27. “Porisso” – Duas palavras, por isso, como de repente e a partir de.
28. Não viu “qualquer” risco – É nenhum, e não qualquer, que se emprega depois de negativas. Não viu nenhum risco / ninguém lhe fez nenhum reparo / nunca promoveu nenhuma confusão.
29. A feira “inicia” amanhã – Alguma coisa se inicia, se inaugura: a feira inicia-se (inaugura-se) amanhã.
30. Soube que os homens “feriram-se” – O que atrai o pronome: soube que os homens se feriram, a festa que se realizou. O mesmo ocorre com as negativas, as conjunções subordinativas e os advérbios: não lhe diga nada / nenhum dos presentes se pronunciou / quando se falava no assunto / como as pessoas lhe haviam dito. Aqui se faz, aqui se paga. Depois o procuro.
31. O peixe tem muito “espinho” – Peixe tem espinha. Veja outras confusões desse tipo: o fuzil (fusível) queimou / casa “germinada” (geminada) / “ciclo” (círculo) vicioso / “cabeçário” (cabeçalho).
32. Não sabiam “aonde” ele estava – O certo: não sabiam onde ele estava. Aonde se usa com verbos de movimento, apenas. Não sei aonde ele quer chegar / Aonde vamos?
33. “Obrigado”, disse a moça – Obrigado concorda com a pessoa: “Obrigada”, disse a moça.
34. O governo “interviu” – Intervir conjuga-se como vir. Assim: o governo interveio. Da mesma forma: intervinha, intervim, interviemos, intervieram. Outros verbos derivados: entretinha, mantivesse, reteve, pressupusesse, predisse, conviesse, perfizera, entrevimos, condisser, etc.
35. Ela era “meia” louca – Meio, advérbio, não varia: meio louca, meio esperta, meio amiga.
36. “Fica” você comigo – Fica é imperativo do pronome tu. Para a terceira pessoa o certo é fique: fique você comigo / venha pra Caixa você também / chegue aqui.
37. A questão não tem nada “haver” com você – A questão, na verdade, não tem nada a ver ou nada que ver. Da mesma forma: tem tudo a ver com você.
38. A corrida custa 5 “real” – A moeda tem plural, e regular: a corrida custa 5 reais.
39. Vou “emprestar” dele – Emprestar é ceder, e não tomar por empréstimo: vou pegar o livro emprestado. Ou: vou emprestar o livro (ceder) ao meu irmão. Repare nesta concordância: pediu emprestadas duas malas.
40. Foi “taxado” de ladrão – Tachar é que significa acusar de: foi tachado de ladrão. Foi tachado de leviano.
41. Ele foi um dos que “chegou” antes – Um dos que faz a concordância no plural. Ele foi um dos que chegaram antes (dos que chegaram antes, ele foi um). Era um dos que sempre vibravam com a vitória.
42. “Cerca de 18” pessoas o saudaram – Cerca de indica arredondamento e não pode aparecer com números exatos: cerca de 20 pessoas o saudaram.
43. Ministro nega que “é” negligente – Negar que introduz subjuntivo, assim como embora e talvez. Ministro nega que seja negligente / o jogador negou que tivesse cometido a falta / ele talvez o convide para a festa / embora tente negar, vai deixar a empresa.
44. Tinha “chego” atrasado – “Chego” não existe. O certo: tinha chegado atrasado.
45. Tons “pastéis” predominam – Nome de cor, quando expresso por substantivo, não varia. Tons pastel, blusas rosa, gravatas cinza, camisas creme. No caso de adjetivo, o plural é normal: ternos azuis, canetas pretas, fitas amarelas.
46. Lute pelo “meio-ambiente” – Meio ambiente não tem hífen, nem hora extra, ponto de vista, mala direta, pronta entrega, etc.
47. Queria namorar “com” o colega – O com não existe: queria namorar o colega.
48. O processo deu entrada “junto ao” STF – Processo dá entrada no STF. Igualmente: o jogador foi contratado do (e não junto ao) Guarani / cresceu muito o prestígio do jornal entre os (e não junto aos) leitores / era grande a sua dívida com o (e não junto ao) banco / a reclamação foi apresentada ao (e não junto ao) Procon.
49. As pessoas “esperavam-o” – Quando o verbo termina em m, ão ou õe, os pronomes o, a, os e as tomam a forma no, na, nos e nas. As pessoas esperavam-no / dão-nos / convidam-na / põe-nos / impõem-nos.
50. Vocês “fariam-lhe” um favor? – Não se usa pronome átono (me, te, se, lhe, nos, vos, lhes) depois de futuro do presente, futuro do pretérito ou particípio. Assim: vocês lhe fariam (ou far-lhe-iam) um favor? / ele se imporá pelos conhecimentos ( e nunca imporá-se) / os amigos nos darão (e não darão-nos) um presente / tendo-me formado (e nunca tendo formado-me).
E então, quantos desses erros comuns você costuma cometer? Poucos?
Então confira mais 50 tópicos na parte II da lista dos “Cem erros mais comuns da Língua Portuguesa”.