Vacina e música: a cultura comunicando ciência
Já estamos acostumados a falar sobre a transformação digital na imprensa e na publicidade, por exemplo. 2020 mostrou que também a saúde e a ciência precisam ser mais acessíveis em sua comunicação. Talvez, um caminho seja a união entre vacina e música, como mostrou o Brasil.
Por aqui, essa união aconteceu graças ao funk, esse gênero musical brasileiríssimo. Estamos falando de “Vacina Butantan”, remix da famosa “Bum Bum Tan Tan” de MC Fioti, o artista brasileiro mais famoso do Youtube.
Memes, vacina e música
No início de Janeiro, o Instituto Butantan de São Paulo, anunciou a eficácia de sua vacina, a CoronaVac. Os brasileiros, comemorando a chegada do imunizante, alimentaram as redes sociais com vários memes brincando com os nomes “Butantan” e “Bum Bum Tan Tan”. Teve até projeção em edifícios, em homenagem à vacina e música.
Os memes sobre a coincidência chegaram até o MC Fioti que prometeu, no início do ano, lançar uma nova versão de sua música. “O nosso funk está se agregando à medicina e isso nunca aconteceu na história”, disse Fioti em entrevista à BBC.
Para quem não lembra, o clipe de “Bum Bum Tan Tan” fez de MC Fioti o primeiro artista brasileiro a atingir 1 bilhão de views no Youtube. Atualmente, seu vídeo já ultrapassou 1.5 bilhão de visualizações.
Parceria com resultado
Não apenas uma nova versão da música foi lançada, como um clipe novo em parceria com o Instituto Butantan, gravado na própria instituição. Lançado dia 23 de janeiro, o vídeo ultrapassou 3 milhões de views em apenas um dia e ficou em 2º nas tendências do Youtube no fim de semana. A iniciativa foi voluntária, partindo do próprio músico e sua equipe.
Clipe “Vacina Butantan”, de MC Fioti.
Produzido pelo famigerado canal Kondzilla, o clipe é uma homenagem ao Butantan. Na filmagem, Fioti caminha pelo Instituto e dança com os próprios funcionários do local – todos bem animados, por sinal – no estilo flash mob. Na letra, ele conscientiza: “Se vacina aí, pô!.”
Em entrevista ao Instituto Butantan, Fioti comenta que sua intenção foi unir vacina e música para conversar e educar seu público: “O funk é muito importante para nossa comunidade e muda muito a vida de jovens na periferia. Essa junção da ciência com o funk vai fazer a molecada se conscientizar e tomar a vacina. Isso vai ser muito importante e vai ter um impacto grande”.
O alcance da iniciativa do músico fez sucesso, sendo divulgada em diversos veículos digitais e jornais no horário nobre. Chegou, inclusive, a repercutir em jornais do exterior, que louvaram a união entre vacina e música para combater a pandemia da COVID-19.
A agência de notícia AFP publica: “Hit de cantor brasileiro no Youtube se une na luta contra o vírus. Cantor MC Fioti, o primeiro brasileiro a conseguir 1.5 bilhão de views no Youtube, refez seu vídeo – para bombar contra a COVID.” Foto: reprodução.
Em seu Twitter, o Instituto Butantan também divulgou o clipe com bastante entusiasmo. Há algum tempo a instituição procura se aproximar do público através das redes sociais, respondendo qualquer menção à vacina do Instituto, buscando conscientizar as pessoas e desmentir fake news.
Tweet no perfil oficial do Instituto Butantan antecipando o clipe de MC Fioti. Foto: reprodução.
A cultura popular é a força da mensagem
Já falamos por aqui sobre o poder da influência em estratégias de comunicação, em especial no marketing de influência. É a ideia de criar parcerias com pessoas que se comunicam em um nível bastante forte com o público (famosos, artistas, atletas etc.) para criar associações positivas com produtos, marcas e ideias.
Essa comunicação consegue ser ainda mais forte quando parte de personalidades do mundo cultural. Isso porque, de modo geral, a cultura participa da formação do indivíduo em tempo real, influenciando gostos, hábitos, experiências, decisões, consumo, mesmo que inconscientemente.
Não à toa, muitos profissionais de marketing utilizam antropologia e etnografia para entender comportamentos de consumo, como já mostramos aqui.
A parceria entre o Instituto Butantan e MC Fioti mostra a força da influência de grandes personalidades para comunicação de ideias. Percebendo a oportunidade que surgiu a nas (especialmente através dos memes), tanto o músico quanto o Instituto conseguiram unir universos aparentemente distintos, como vacina e música, para comunicar a mesma mensagem. Goste-se ou não de funk, a iniciativa está de parabéns.